A PAIXÃO PELO ENSINO ARTÍSTICO NO CHAPITÔ – A CONCRETIZAÇÃO DOS SONHOS
Todos podemos descobrir que queremos ser artistas. É preciso acreditar que tal é possível – tanto nas artes como nos ofícios, ou seja, tanto em frente ao público, como nos bastidores – na pista, no palco, em cena – dependendo do tipo de espectáculo.
Na Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espectáculo, no espaço do Chapitô, muitos são aqueles que seguem este sonho e tornam-no realidade.
Desde 1987 que, com a criação do Chapitô, Teresa Ricou – artista de circo – oferece uma oportunidade única de concretizar o sonho de tantos jovens começando-se a ensinar as artes do espectáculo em regime de aula e de workshop, criando mais tarde, em 1991, a Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espectáculo .
Tem-se feito o possível para que realmente aquilo que é dado na teoria possa complementar as disciplinas práticas, para que as várias vertentes do programa se completem no cruzamento umas com as outras.
Ao longo dos 3 anos de duração normal dos cursos, os alunos têm um acompanhamento de professores coordenadores, de modo a conhecerem e irem descobrindo as suas potencialidades. No 3.º ano têm um estágio obrigatório e as provas de Aptidão Profissional.
Os alunos que, dentro de uma especialização, se mostram tecnicamente preparados, são incentivados a entrarem para escolas superiores na Europa, vocacionadas para esta área artística.
Os alunos são a partir daqui livres de expressarem a sua criatividade e conhecimentos em público. Eles orgulham-se daquilo que aprenderam na Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espectáculo, e das experiências que viveram e partilharam intensa e apaixonadamente, fora e dentro desta casa. Podem tornar-se freelancers e, ao mesmo tempo, estarem aptos a desencadear toda uma montagem de dispositivos operacionais para a realização dos espectáculos. Eles, em certo grau, têm de aprender determinadas particularidades do espectáculo por eles mesmos, embora tenham o apoio de protagonistas do próprio sector onde desempenham a sua actividade.
A Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espectáculo responde desta forma à necessidade de formação no domínio do espectáculo e animação pública, criando mais e melhores profissionais (numa perspectiva pluridisciplinar e polivalente) em domínios que se encontram especialmente em expansão nas zonas urbanas e metropolitanas. Isto deve-se, em grande parte, à comunicação global, que apresenta como consequência, uma diversificação de estilos e de público interessado nestes e nas sociabilidades que lhes são inerentes.
O esforço por melhorar a qualidade do ensino na Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espectáculo tem sido sempre o caminho escolhido pedagógica e tecnicamente. Registam-se aperfeiçoamentos e remodelações sucessivas dos dispositivos pedagógicos, de modo a tornar isso possível. A disciplina e a criatividade andam de mãos dadas, já que estamos num sector (o artístico) onde a liberdade de expressão é inerente, mas onde os melhores resultados se conseguem à custa de muito esforço, treino, concentração e dedicação diárias. Um trabalho intenso que reúne as racionalidades e as emoções de um modo de vida muito particular que foge aos trâmites da convencionalidade.
A Escola Profissional de Artes e ofícios do Espectáculo do Chapitô pertence ao Projecto Integrado Chapitô, que é uma ONG (Organização Não-Governamental) e uma IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social). O Chapitô, além da Escola profissional de Artes e Ofícios, reveste-se de outros pólos de interesse, como sejam o Colégio da Bela Vista [e actualmente os Centros Educativos Padre Antonio de Oliveira e Navarro de Paiva], as Oficinas de materiais de espectáculo, o estúdio de Audiovisuais, a Biblioteca e o Centro de Documentação, o sector das Produções e Vendas, a Companhia Profissional de Teatro, o Restaurante/Bar/esplanada (contribuindo para a economia financeira da casa, entre outros.
O Chapitô tem como parceiros institucionais o Ministério da Justiça, o Ministério da Educação, o Ministério da Cultura, o Instituto Português do Desporto e da Juventude e MoviJovem, bem como o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Na sua filosofia de autonomia pedagógica, como serviço de apoio público, o Chapitô, além de ter os seus parceiros institucionais, pretende desenvolver uma economia social que garanta, de futuro, a sua autonomia financeira.
A indústria cultural mostra-se cada vez mais importante nos dias que correm, e como tal, deve ser estimulada e financiada com recursos dignos da utilidade de que se reveste para a sociedade no seu geral, não só como forma de entretenimento, mas igualmente como meio de comunicação, educação, e mesmo de intervenção social.
O Chapitô aposta assim num processo de exploração de novos campos de intervenção, integrando o interesse pela pluralidade cultural e seus cruzamentos, de forma a proporcionar uma visão abrangente, e um serviço da maior importância não só ao público, mas igualmente à sociedade em que nos inserimos, despertando sensibilidades quotidianamente menosprezadas ou mesmo ignoradas. Um contante desafio, tomando sempre uma linha artisticamente coerente e sempre renovada.
Pode ser que, deste modo, possamos um dia vislumbrar uma sociedade mais justa e verdadeiramente democrática.
Teresa Ricou
Janeiro-Março/2000
Excerto adaptado de um texto publicado originalmente na revista NOESIS – A Educação em Revista, nº 53, JAN/MAR 2000, Instituto de Inovação Educacional (Ministério da Educação).
É A REALIDADE SOCIAL QUE CONSTITUI O DIREITO
How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of every day’s
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right.
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood’s faith.
Elizabeth Barrett Browning (1806 –1861), Sonnets from the Portuguese
O direito não extrai nada de si mesmo – é a realidade social que o constitui – e é na ética que fundamenta a sua normatividade ou uma imperatividade com validade.
Ainda é cedo para falarmos do que será o pós-pós-pandemia, mas podemos afirmar que o direito será um meio poderoso sempre que conciliar dimensões legais com não-legais – sociais e económicas – orientando, com ética, a vida social para um caminho não conflitual. O direito é, afinal, ele próprio uma fonte de conquistas sociais.
Este direito – que é o nosso desejo – pode revelar uma “força” especial, não estritamente moral, mas proveniente de uma robustez ética intrínseca. E este direito saberá não apenas lidar com regularidades sociológicas e a arbitrariedade dos processos históricos, mas servir-se dessa robustez ética intrínseca para criar eficácia social: paz social e bem-estar. Será capaz de alcançar novas e equilibradas conquistas no progresso da humanidade. Este é, para o direito, um desígnio mais ambicioso do que parece estar actualmente em cima da mesa: a ideia de que o direito se resume às normas abstractas de um legislador. O escritor francês Stendhal terá dito que começava por ler o Código Civil Napoleónico para afinar o tom da sua escrita. Mas termos o Código Civil a afinar o tom da literatura é manifestamente um output fraquinho para a modernidade. No que diz respeito aos direitos das crianças, continuamos hoje a almejar uma prática social do direito referida à justiça?
Vera Martins
Abril /2024