GUERRA E PAZ
Já foi tema de Tolstoi adaptado ao cinema por King Vidor com Audrey Hepburn.
É título constante de jornais.
É brincadeira de crianças.
É, actualmente, uma realidade mundial, a Guerra.
E a Paz esquecida.
Um dia um menino perguntou ao pai porque existiam guerras?
O pai respondeu-lhe: porque há pessoas que gostam de ser sempre os mais fortes. Têm
vontade de dominar, de obrigar os outros a fazer tudo o que elas querem, sem nunca
perguntarem o ponto de vista dos outros.
Assim provam, que lá por serem mais fortes, não quer dizer que tenham sempre razão.
De facto, a força de alguns não necessita afirmar-se pela violência. Se pensarmos
bem, as palavras, por si, são uma força; elas podem ofender, mas também podem
levar ao diálogo, à Paz. Naturalmente que é difícil, muitas vezes, encontrar a Paz.
É preciso coragem. E quando o mundo está todo revolto ainda é muito mais difícil.
É tempo de perguntar:
O que se passa com a humanidade?
Todos têm a mesma pergunta. Gente de várias cores, credos, idades e profissões.
Todos tentam sobreviver a tão grande Tempestade.
O “clima” está pesado.
Mas nesta vida terrena, não nascemos para sofrer.
Nascemos para nos amarmos e sentirmos todos os dias o prazer de existir. Para
cada um por si e todos juntos darmos uma oportunidade à Paz.
É urgente, portanto, travar a escalada da violência e afirmar uma vida em paz.
Este é um objectivo a não perder de vista, para o bem estar de todos, para uma justiça social e imediata.
Fica para reflectirmos a palavra do poeta:
“Poderemos acaso habitar uma zona tranquila e lúcida sem violentos
abalos, sem inquietação e sem medo?
Teremos nós recebido uma mensagem e tê-la-emos perdido?
O caminho por onde vamos é cada vez mais estreito e o que há para
além dele escapa à nossa (minha) perspectiva”.
António Ramos Rosa, Deambulações oblíquas
Teresa Ricou
Novembro/ Dezembro 2001
O que não é justiça, é violência
Os tribunais limitam-se a aplicar as leis ou buscam a justiça? É uma questão retórica ou interessa mesmo? São os tribunais que administram a justiça em nome do povo e por isso se diz que a ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito. Mas se não fazemos justiça pelas nossas próprias mãos – porque mandatámos os tribunais para o fazerem – como farão os tribunais justiça através do direito? É que os sistemas jurídicos mais desenvolvidos colocaram a fasquia muito alta pois prometeram um direito que é racional, coerente, necessário e justo! Porém, são cada vez mais os que dizem que a ordem jurídica de hoje não está a conseguir incorporar novos e dilacerantes antagonismos e renovadas “guerras” sociais e culturais.
A partir dos anos 60, e de forma acutilante nos EUA, vários movimentos teóricos chamaram a atenção para gritantes contradições existentes nos sistemas legais e refutaram a existência de uma neutralidade política na administração da justiça. Alguns autores dos Estudos Jurídicos Críticos (Critical Legal Studies) defenderam até que as democracias liberais não aceitam outra visão do direito que não seja a afirmação veemente de um idealismo e de uma neutralidade política, uma utópica forma de resolver conflitos – seria uma alegadamente objectiva racionalidade jurídica!
São já muitos os que dizem que a realidade desmente esta pretensão da ordem jurídica e que os avanços por exemplo de machine learning deverão até levar a que os juízes sejam progressivamente substituídos por máquinas mais racionais. Mas quem fará justiça? Teremos mais guerras?
Vera Martins
13/06/2022